Chamamos de “notas alvo” (do inglês Target Notes) aquelas notas que são nosso objetivo principal em um solo.
Para ficar mais claro, vamos conversar um pouco sobre “solos legais” e improvisação.
Você já sabe que o básico para se saber improvisar em cima de uma base (sequência de acordes) qualquer é conhecer a tonalidade da música e aplicar a escala maior, menor relativa ou pentatônica. Muito bem, mas nem sempre o solo fica legal, não é verdade?! Mesmo fazendo fraseados e explorando diferentes técnicas, às vezes algumas notas não soam tão bem, apesar de pertencerem ao campo harmônico da música.
A explicação para isso é simples, não podemos nos restringir a pensar somente no campo harmônico, precisamos pensar também nos acordes! Você deve concordar que um solo trabalha em cima de uma harmonia, e uma harmonia é feita por acordes.
Mesmo que o campo harmônico não se altere durante toda a música, cada nota da escala vai soar diferente (ter um impacto diferente) quando tocada em cima de cada acorde desse campo harmônico. Então precisamos saber quais notas ficam mais bonitas para cada acorde!
Acompanhe esse raciocínio: um acorde é uma união de notas. Então, ao fazer um solo em cima de um acorde, podemos tocar no solo as notas que pertencem a esse acorde. Por exemplo, se uma música tivesse os acordes C, Em, F e G, poderíamos pensar em tocar as notas:
C, E, G em cima do acorde de Dó maior;
E, B, G em cima de Mi menor;
G, B, D em cima de Sol maior;
F, A, C em cima de Fá maior.
Essas são as tríades (notas de acorde) de cada acorde da música.
Obs: Se esses mesmos acordes tivessem também a sétima (tétrades), poderíamos incluir o sétimo grau como nota a ser tocada também.
Isso que fizemos não teria como soar feio, concorda? Afinal seria o próprio arpejo de cada acorde! Pois bem, o segredo é esse: um solo sempre vai ficar legal se focarmos nossa atenção nas notas de acorde durante toda a música. Mas aí você vai dizer: “Poxa, então quer dizer que eu vou ter que ficar fazendo arpejos o tempo todo? Só posso tocar 3 ou 4 notas por acorde?”, não meu amigo, é aí que entra esse tal assunto de notas alvo!
Como as notas de acorde são as notas que soam muito bem, elas serão nossas notas alvo. Ou seja, faremos nosso solo com o objetivo de chegar até essas notas (por isso o nome: alvo). Como faremos isso? Há muitas maneiras.
Preste atenção na tonalidade da música e tente enfatizar as notas de acorde de alguma forma, fazendo com que elas realmente apareçam no solo. Mostraremos a seguir algumas ideias para você trabalhar isso; são exercícios que podem ser aplicados na prática.
Muito bem, podemos chegar até as target notes de diferentes maneiras, e as mais comuns são por:
- Aproximação Diatônica Ascendente
- Aproximação Diatônica Descendente
- Aproximação Mista
- Aproximação Cromática
- Aproximação por Graus Conjuntos
- Aproximação por Graus Disjuntos
Você não precisa decorar todos esses nomes, basta entender a ideia por trás de cada um. Mostraremos cada técnica em cima de uma suposta música formada pelos acordes C, Em, F e G (tonalidade de Dó maior). Então vamos lá:
Target Notes por Aproximação Diatônica Ascendente
O nome “diatônica” significa que vamos trabalhar com notas da escala natural. Funciona da seguinte forma: procuramos tocar a nota da escala que se localiza imediatamente antes da nota de acorde e depois tocamos a nota de acorde. Por exemplo, no acorde de Mi menor, as notas alvo são E, G, B. Qual a nota que vêm antes de cada uma dessas notas? D vem antes de E; F vem antes de G e A vem antes de B. Então, uma opção para nosso solo poderia ser o seguinte: F – G, D – E, A – B.
A lógica é justamente essa: “finalizar” cada trecho com uma nota de acorde. Podemos brincar com a ordem das notas de acorde como quisermos (D – E, A – B, F – G, etc.), não é necessário seguir a ordem 1º, 3º e 5º graus em sequência. Veja abaixo essa aplicação para os acordes da nossa música (as notas de acorde estão destacadas em vermelho):
- Dó maior: B – C, D – E, F – G
- Mi menor: D – E, F – G, A – B,
- Fá maior: E – F, G – A, B – C
- Sol maior: F – G, A – B, C – D
Target Notes por Aproximação Diatônica Descendente
Funciona da mesma maneira que fizemos no caso anterior, com a diferença de que agora tocaremos uma nota posterior à nota de acorde para depois voltar (descendente) e tocar a nota de acorde. Usando o mesmo exemplo de Mi menor, a sequência seria: F – E, A – G, C – B. Note que F, A e C são as notas que vêm depois de E, G, e B, respectivamente. Segue abaixo a aplicação os demais acordes:
- Dó maior: D – C, F – E, A – G
- Mi menor: F – E, C – B, A – G
- Fá maior: G – F, D – C, F – E
- Sol maior: A – G, C – B, E – D
Target Notes por Aproximação Mista
É mesclar as duas aproximações anteriores. Use sua criatividade! Podemos, por exemplo, no acorde de Mi menor, chegar até a nota E de forma ascendente, depois chegar até a nota G de forma descendente, etc. Ou ainda, podemos tocar ambas as notas que estão acima e abaixo antes de finalizar na nota de acorde. Mostraremos estes exemplos abaixo.
Sobre o acorde de Dó, mostraremos a mescla de ascendente com próxima nota descendente; sobre o acorde de Mi menor, mostraremos a mescla de descendente com próxima nota ascendente; e sobre os acordes de Fá maior e Sol maior, mostraremos uma mescla aleatória de tudo.
- Dó maior: B – C, F – E, F – G
- Mi menor: F – E, A – B, A – G
- Fá maior: G – F, D – C, D – E
- Sol maior: F – G, A – B, E – D
Target Notes por Aproximação Cromática
A ideia aqui é a mesma que tivemos para as aproximações diatônicas, a única diferença é que, em vez de tocar uma nota posterior ou anterior que pertence à escala maior, tocaremos notas que estão um semitom antes ou depois da nota de acorde, ou seja, notas da escala cromática. Apesar de serem notas que não pertencem ao campo harmônico da música, elas servirão como notas de passagem, pois o efeito cromático faz nosso ouvido “aceitar” essa reprodução.
Faremos um tópico específico para mostrar mais exemplos desse assunto, pois ele pode ser bem explorado e utilizado. Aqui, apenas estamos explicando e introduzindo a ideia. No caso de Mi menor, a sequência então seria (numa aproximação ascendente): D# – E, F# – G, A# – B. Segue abaixo algumas aplicações para os demais acordes, utilizando aproximação ascendente e descendente:
- Dó maior: B – C, D# – E, F# – G
- Mi menor: F – E, C – B, Ab – G
- Fá maior: Gb – F, Db – C, D# – E
- Sol maior: F# – G, A# – B, Eb – D
Aproximação por Graus Conjuntos com Target Notes
Trabalhar graus conjuntos é utilizar os mesmos conceitos de aproximação ascendente e descendente para fazer sequências mais longas antes de se chegar à nota alvo. Por exemplo, podemos chegar até a nota G por aproximação ascendente conjunta. Para tanto, em vez de tocar somente F – G, podemos vir desde C: C – D – E – F – G. Isso vale tanto para aproximações ascendentes, como para descendentes, mistas ou cromáticas. Exemplos:
- Dó maior: A – B – C, D – D# – E, F – F# – G
- Mi menor: G – F – E, D – C – B, B – A – G
- Fá maior: G – Gb – F, D – Db – C, C – D – E
- Sol maior: E – F – F# – G, F – G – A – B, F – E – Eb – D
Aproximação por Graus Disjuntos com Target Notes
Graus disjuntos são notas que não são imediatas umas das outras, ou seja, possuem uma distância maior. Por exemplo, podemos nos aproximar da nota E tocando “C – E” em vez de “D – E”. Nesse caso, utilizamos não a nota imediatamente anterior à nota de acorde, e sim a segunda nota anterior. Exemplos:
- Dó maior: A – C, C – E, E – G
- Mi menor: G – E, D – B, B – G
- Fá maior: D – F, E – C, C – E
- Sol maior: B – G, G – B, F – D
Legal, veja como temos inúmeras combinações e possibilidades de explorar as notas alvo! Seu solo não precisa ser exatamente uma sequência como essas que mostramos; o ideal é que você apenas preste atenção nos acordes e identifique quais são as notas alvo, tentando enfatizá-las em seu solo.
Esses exercícios são bons para você praticar essa ideia, e podem ser utilizados como fragmentos dentro de frases melódicas que você mesmo tenha criado.
Pode parecer meio enfadonho ter que saber/decorar todas as notas de acorde de todos os acordes possíveis. Mas não é tão difícil. Nos instrumentos de corda, você precisa focar sua atenção nos desenhos e shapes.
Por exemplo, o acorde de Fá em pestana tem o mesmo shape do acorde de Sol em pestana, etc. Isso significa que se você souber enxergar as notas de acorde de Fá, automaticamente sabe enxergar as notas de acorde de Sol, pois o desenho é o mesmo. Então, nosso trabalho fica absurdamente reduzido, basta saber visualizar as notas alvo de uns 3 shapes diferentes e você já vai conseguir trabalhar notas alvo em qualquer acorde de qualquer música.
Então, concentre-se nisso!
Além do mais, esse estudo de target notes é importante pois começamos a exercitar um conceito de improvisação que será muito trabalhado mais para frente: a improvisação pensando em acordes!
Até aqui, havíamos falado de improvisação pensando apenas em campo harmônico. Estudos mais avançados trabalham a improvisação do ponto de vista de cada acorde, aproveitando oportunidades para utilizar diversas outside notes em cada situação.
É isso o que vai fazer você se diferenciar de 99,9% dos músicos do planeta, que só sabem tocar pentatônica e escala maior. É incrível como você só encontra por aí tutoriais e aulas sobre técnica, técnica e técnica. Os estudantes se preocupam muito em tocar rápido, e aqueles que já entenderam que velocidade não é tudo, tentam inventar solos legais e melódicos utilizando somente recursos técnicos, já que não sabem nada de teoria.
Todo mundo esquece que uma sonoridade boa depende das notas que você está tocando. O músico que sabe teoria musical vai estar sempre na frente.
Para chegar nesse nível de pensar em acordes e não se restringir a campos harmônicos, comece desde já a prestar atenção em cada acorde da música. Estamos apenas iniciando nossos estudos nesse assunto, começando com as target notes, mas já é um ótimo começo. Isso já vai acrescentar muita beleza aos seus solos. Fica a dica!
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