Rearmonização é a arte de modificar a estrutura harmônica de uma música. Para tanto, os músicos trabalham em cima de diversos conceitos, muitos dos quais já vimos aqui no site.
Como rearmonizar
Falando num sentido mais prático, rearmonizar é pegar uma música pronta e alterar sua harmonia, mantendo sua melodia original. Digamos que seu amigo chegue para você e mostre uma música que ele fez. Com conceitos de rearmonização, você pode pegar a música dele e melhorá-la, criando uma estrutura mais complexa e interessante.
Outra utilidade é trabalhar em cima de músicas que já são muito conhecidas. Por exemplo, você poderia querer tocar um hit famoso, mas com uma nova versão, para demonstrar personalidade de sua parte. Para isso, seria necessário rearmonizar sua estrutura. Lembre-se, no entanto, que nem sempre o mais complexo é o mais bonito. A principal função da rearmonização é fornecer uma base para ideias alternativas, sendo que a qualidade dessas ideias vai depender do bom gosto de seu compositor.
Como trabalhar com rearmonização
Muitos arranjadores e compositores ganham a vida fazendo isso. As pessoas chegam para eles com músicas que desejam gravar, fazendo acordes secos e quadrados (que são os únicos que elas conhecem). Então os arranjadores observam a intenção do “artista” e rearmonizam a música, melhorando a estrutura e enriquecendo a composição de acordo com o gosto e motivação do seu cliente.
Você vai perceber, ao longo desse estudo, que toda e qualquer rearmonização precisa ser feita considerando a melodia. É ela que vai dizer o que podemos ou não fazer. Esse tópico irá enfatizar muito esse ponto, mostrando como a melodia é o carro-chefe e o que podemos inventar de base em cima dela.
Tipos de rearmonização
Para que você tenha essa articulação toda que comentamos e aprenda bem esse conceito, iremos mostrar aqui 6 formas possíveis de rearmonização:
- Com incremento de notas aos acordes.
- Com substituição de acordes de mesma função harmônica.
- Com substituição do modo grego utilizado.
- Com utilização de progressões e cadências.
- Com modulações.
- Com acordes de empréstimo modal.
Demonstraremos cada método separadamente, pois cada abordagem é bastante extensa. Vamos ao primeiro caso:
1) Com incremento de notas aos acordes:
Esse método nada mais é do que acrescentar notas aos acordes da música. Muitos autores não classificam esse incremento como rearmonização, mas aqui nós iremos considerar qualquer mudança na harmonia como rearmonização (mesmo que seja apenas modificar notas isoladas nos acordes).
Considere então que uma música foi formada pelos seguintes acordes:
| G | D | Em | C |
Uma primeira ideia que poderíamos ter para essa música seria acrescentar a sétima a cada um desses acordes, formando tétrades em vez de tríades. Ficaríamos com:
| G7M | D7 | Em7 | C7M |
Essa estrutura já daria um novo corpo para a música. Mas talvez o cantor não tenha gostado desse D7 dizendo que ele ficou muito agressivo. Então você opta por colocar um D9, que é bem mais suave.
| G7M | D9 | Em7 | C7M |
Já que, no acorde D9 no violão, a nona (nota E) entrou no lugar da terça (nota F#), podemos aproveitar para colocar a nota F# no baixo.
Observe o acorde D9/F#:
Isso também provocaria uma sequência interessante no baixo da música, que ficaria decrescendo: G, F#, E:
| G7M | D9/F# | Em7 | C7M |
Como teremos uma volta para G7M depois de C7M, e a quinta de G7M é a nota Ré, podemos aproveitar para acrescentar essa nota Ré ao acorde C7M (seria a nona de C7M) para deixar essa estrutura mais estática. Veja esses dois acordes abaixo:
C7M(9)
G7M
Repare como a nota da segunda corda (D) não se mexeu na transição entre esses acordes no violão (no teclado tivemos 3 notas estáticas). Essa técnica de tentar manter algumas notas estáticas durante a transição dos acordes é muito utilizada, pois faz a harmonia ficar suave. Chama-se “nota pedal”.
Muitos compositores argumentam que, quanto menos “socos” e trocas de oitava bruscas, mais agradável e suave vai ficar a harmonia. Devemos procurar tocar notas próximas, que desloquem pouco nossos dedos. No teclado, essa abordagem é muito exercitada nos acordes.
Tecladistas geralmente procuram as melhores inversões e shapes para se tocar “próximo”, sem ficar pulando muito nas teclas. É interessante você pensar nas notas de extensão considerando isso. Tente fazer com que haja pouca movimentação dos dedos em cada troca de acorde. Claro que nem sempre a suavidade vai ser seu objetivo sonoro, mas quando for, lembre-se disso.
Bom, compare então nossa harmonia inicial com a final:
| G | D | Em | C |
| G7M | D9/F# | Em7 | C7M(9) |
Essa foi apenas uma ideia. Podíamos pensar também em colocar quartas, sextas, inverter alguns acordes, enfim, sempre haverá inúmeras possibilidades para trabalharmos. Basta considerar a tonalidade que estamos e incluir as notas de extensão que ficarem agradáveis a seu gosto, combinando também o efeito estático que comentamos e a movimentação do baixo.
Tudo isso pode ser levado em conta na hora de se trabalhar esse tipo de rearmonização. Considere que, apesar de algumas extensões descaracterizarem alguns acordes (dependendo do contexto), qualquer extensão pode ser válida como fator surpresa, desde que não haja choque com a melodia.
O próximo recurso de rearmonização será analisado na parte 2 desse tópico (substituição de acordes).
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