Como estamos falando de guitarras, não poderíamos deixar de citar a definição de “bom guitarrista”. Para os iniciantes na guitarra, é comum dizer “quanto mais rápido, melhor”. Ou seja, quanto mais rápido um guitarrista consegue tocar, melhor ele é. Depois de uma certa experiência, o estudante começa a perceber que “velocidade não é tudo”, ou seja, também é preciso ter feeling, tocar com sentimento, ser melódico, tocar coisas bonitas. A união desses dois fatores faz um guitarrista ser bom, certo? Errado! O que faz um músico ser bom depende de muitas outras questões. Primeiro, do estilo que estamos falando.
Um guitarrista pode ser muito bom no mundo do metal, mas fraco no mundo do jazz, por exemplo. Existem guitarristas muito bons com a mão direita, que fazem uma leitura muito rápida dos tempos e possuem muito swing. Outros são especialistas em chord melody. De um modo geral, não há como definir se um guitarrista é bom ou não sem definir de qual universo estamos falando. E por que um guitarrista rápido e melódico não pode ser considerado um “bom guitarrista”? Afinal ele consegue tocar qualquer coisa! Bom, entenda o seguinte:
Estilos diferentes requerem habilidades diferentes. A execução (ou reprodução) é apenas uma das habilidades que um músico pode desenvolver. Músicos eruditos, por exemplo, são mestres na execução. E não apenas isso, eles também são mestres na leitura musical. Porém, se você pedir para um músico erudito improvisar um solo, você talvez fique surpreso que ele não consiga fazer nada. Como seu trabalho é muito focado na execução e na performance, o músico erudito treina muitas horas todos os dias, mas com foco total nisso. Ele não costuma treinar improvisação, salvo raras exceções. A consequência é que ele acaba não desenvolvendo outras habilidades, e numa situação simples (como numa rodinha de jam session), ele pode passar vergonha.
Quando você tira o terreno que um músico está acostumado a pisar, você começa a entender melhor a definição de “bom músico”. O próprio tema “improvisação” que acabamos de citar é extremamente amplo. Uma coisa é improvisar em cima de uma tonalidade bem conhecida num tempo 4/4. Outra coisa é improvisar em cima de modulações em um tempo 5/4. Até mesmo músicos experientes no assunto “improvisação” podem se ver em maus lençóis se expostos a compassos não habituais e acordes ou tonalidades pouco praticados. A acentuação mudaria, as opções de escalas, enfim, tudo mudaria.
E existem ótimos músicos de improvisação, especialistas em jazz, bossa nova, mpb, que inclusive conseguem tocar rápido e se arriscam também no mundo do virtuosismo. Mas não se dão bem no groove, no funk americano, no soul. Um cantor começa a cantar, a bateria dita o compasso, mas os riffs na guitarra não saem. A batida não envolve, não encaixa no contratempo do baixo. Ou seja, um guitarrista que não está acostumado com esse estilo também pode passar vergonha e ser visto como um péssimo músico, mesmo sendo excelente em diversos outros quesitos.
E o que falar sobre a composição? Quem nunca conheceu um músico simples, que não enche os olhos da platéia com suas performances, mas que compõe músicas excelentes? As habilidades de composição, arranjo, harmonização, ambientação, também são qualidades que podem ser praticadas e estudadas. Temos músicos fortes e fracos nesses quesitos também.
Então de um modo geral, antes de começar uma discussão sobre quem é o melhor, ou até mesmo quem é bom, defina qual o estilo e universo que você está se referindo. Não tente também definir quem é o mais completo, pois dificilmente você saberá avaliar todos os quesitos possíveis em um músico. E mesmo que conhecesse bem todas as variantes possíveis de habilidades, você não viu os músicos serem submetidos a situações divergentes. Por exemplo, você dificilmente vai ver uma situação real de um músico famoso tentando tirar uma música na hora. Temos limitações de observação. Precisaríamos realizar uma bateria muito grande de testes para descobrir quem realmente é versátil. E depois de realizar muitos testes, você teria um gosto particular, seu amigo teria outro, seu primo teria outra opinião, e assim por diante. Gostos e preferências são muito pessoais e particulares.
De um modo geral, a técnica, o virtuosismo e o feeling são mais fáceis de se avaliar à distância, por isso que todas as opiniões se concentram nessa esfera. Mas entenda que há muito mais que isso.
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