Harmonia quartal, como o próprio nome diz, se refere a intervalos de quartas. Basicamente, a ideia é montar acordes utilizando intervalos de quarta em vez de intervalos de terças.
Já aprendemos em tópicos anteriores que os acordes são formados a partir de intervalos de terças. Esses intervalos podem ser de terça maior ou de terça menor, formando acordes maiores, menores, acordes maiores com sétima maior, acordes maiores com sétima menor, etc.
Por exemplo, o acorde C7M possui as notas C, E, G, B. A distância entre C e E é de dois tons (terça maior). Entre E e G temos um tom e meio (terça menor). Entre G e B temos dois tons (terça maior).
Você pode fazer esse teste para todos os acordes de um campo harmônico maior e verá que os intervalos sempre são de terças. Isso parte do próprio princípio de formação dos acordes em um campo harmônico, como estudamos no tópico sobre campos harmônicos.
Vimos que na escala de dó maior, por exemplo, para formar determinado acorde bastaria iniciar na nota do acorde em questão e ir pulando de duas em duas notas, como no exemplo abaixo. Obs: iremos colocar a escala em duas oitavas para ficar mais claro a formação dos acordes.
Notas da escala de dó maior: C D E F G A B C D E F G A B
Formando o acorde de ré utilizando essa escala: C D E F G A B C D E F G A B
- Acorde resultante: Dm7
Formando o acorde de mi utilizando essa escala: C D E F G A B C D E F G A B
- Acorde resultante: Em7
Ao pular de duas em duas notas na escala, estamos utilizando intervalos de terça. Em outras palavras, se considerarmos que a nota de origem é o primeiro grau, a próxima nota é o segundo grau, e a próxima é o terceiro grau. Por isso que pulando de duas em duas temos intervalos de terça.
Então como poderíamos formar acordes utilizando intervalos de quarta? Basta pular de três em três notas!
Notas da escala de dó maior: C D E F G A B C D E F G A B
Formando o acorde de ré utilizando intervalos de quartas: C D E F G A B C D E F G A B
- Acorde resultante: Dm7(add4)
Formando o acorde de mi utilizando intervalos de quartas: C D E F G A B C D E F G A B
- Acorde resultante: Em7(add4)
Formando o acorde de fá utilizando intervalos de quartas: C D E F G A B C D E F G A B
- Acorde resultante: F7M(b5)
Experimente tocar no seu instrumento esses acordes um após o outro para sentir a sensação de harmonia quartal. Você vai reparar que a sonoridade é bem interessante, um pouco enigmática.
Seguindo a mesma lógica, você pode montar todos os demais acordes, em qualquer escala maior.
Legal, aprendemos como montar uma harmonia quartal, mas para que isso serve na prática?
Aplicação da harmonia quartal
Uma das aplicações mais comuns da harmonia quartal é tocar vários acordes quartais enquanto outro instrumento está fixo no mesmo acorde. Por exemplo, se a banda está repousando no acorde de Ré menor, você pode pensar no modo dórico (como já comentamos no tópico de modos gregos) e tocar – portanto – todos os acordes quartais gerados a partir desse modo.
Para saber quais são os acordes gerados a partir do modo em questão, basta se localizar em relação à escala maior. Por exemplo, se você vai tocar um acorde dórico, significa que você está um tom acima da tônica que formou a escala maior. Como resultado, o próximo acorde será um acorde menor com quarta adicionada, localizado um tom acima desse acorde.
Exemplificando: se estamos tocando ré dórico, o acorde em questão será Dm7(add4) e o próximo acorde (um tom acima) será Em7(add4). Se estamos tocando lá dórico, o acorde em questão será Am7(add4) e o acorde localizado um tom acima será Bm7(add4).
Sabendo se localizar nos modos gregos tudo fica simples. Você pode memorizar os shapes dos acordes quartais e praticar a ideia de ficar tocando vários desses acordes em sequência. Depois, utilize essa ideia em cima de alguma música que você goste, em um momento em que um acorde permanece estático por bastante tempo; aproveite esse momento para usar harmonia quartal.
Vale a pena enfatizar que a utilização da harmonia quartal é mais comum dentro do conceito modal. Ou seja, se a música está repousando em um acorde maior, você pode usar harmonia quartal considerando esse acorde como sendo lídio. Se o acorde é menor, você pode pensar nele como sendo dórico. Se isso está obscuro para você, recomendamos que volte e revise o tópico de harmonia modal.
Improvisando solos em harmonia quartal
A ideia de harmonia quartal também serve para solos. Primeiro vamos observar alguns fatos interessantes sobre as aberturas quartais dentro de uma escala maior.
Notas da escala de dó maior: C D E F G A B
Vamos fazer duas aberturas quartais a partir de cada uma das notas dessa escala:
C – F – B
D – G – C
E – A – D
F – B – E
G – C – F
A – D – G
B – E – A
Se formos contar a distância exata de cada um desses intervalos, vamos constatar que alguns intervalos são de quarta justa e outros são de quarta aumentada.
Na realidade, praticamente todos os intervalos são de quarta justa, exceto o intervalo de F – B / B – F, que consiste em uma quarta aumentada. Portanto, vamos eliminar as notas que possuem os intervalos F – B da tabela anterior:
C – F – B
D – G – C
E – A – D
F – B – E
G – C – F
A – D – G
B – E – A
Considerando somente as notas resultantes (partindo das notas de origem da esquerda), ficamos com: D, E, G, A, B. Essas são as notas da escala pentatônica maior de sol!
Ou seja, se quisermos manter apenas os intervalos de quarta justa de uma escala maior, acabamos formando uma escala pentatônica. Então podemos usar essa pentatônica em nossos solos para fornecer uma característica quartal.
Repare que a escala resultante aqui foi a escala pentatônica maior de sol, não de dó. Também podemos pensar na sua relativa (mi menor pentatônica).
Então para saber a pentatônica certa de se utilizar para dar uma característica quartal no solo, basta encontrar uma boa forma de se localizar. Aqui vão algumas dicas:
– Se o acorde de repouso é menor, você irá pensar no modo dórico, portanto a pentatônica menor estará localizada um tom acima. Exemplo: acorde de ré menor, pensando em ré dórico, temos a pentatônica de mi menor.
– Se o acorde de repouso é maior, você irá pensar no modo lídio, portanto a pentatônica maior estará localizada um tom acima. Exemplo: acorde de fá maior, pensando em fá lídio, temos a pentatônica de sol maior.
Com isso em mente você já pode adicionar muitos recursos interessantes em suas músicas. É hora de deixar a criatividade fluir. Pratique bastante esses conceitos. E não se preocupe, nesses assuntos mais avançados, é perfeitamente normal levar bastante tempo até conseguir internalizar e colocar em prática.
Quanto mais avançado for o assunto de teoria musical, mais tempo vai levar para você conseguir transformar essa teoria em prática. Então mãos à obra, você tem muito dever de casa para praticar!
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