Cadência é uma sequência de acordes que produz um efeito harmônico característico. Existem inúmeras sequências de acordes possíveis de se fazer para criar uma música, mas algumas sequências são muito comuns de aparecerem devido ao seu efeito sonoro, e por isso recebem o nome de cadências (ou progressões).
Uma cadência muito comum, como vimos no artigo “Harmonia Funcional”, é a cadência IV, V, I.
As cadências servem como um padrão (clichê), algo que pode ser aplicado em diversos contextos, com o intuito de criar alguma sensação harmônica. Por isso, as cadências trabalham em cima das funções harmônicas.
Cadência II – V – I
Considere, por exemplo, a sequência de graus II, V, I. Já vimos que o 2º grau exerce a função subdominante, o 5º grau exerce a função dominante e o 1º grau é a tônica. Podemos notar que essa sequência cria justamente a ideia de suspende/ prepara/ conclui. Quando a tônica é um acorde maior, essa cadência (utilizando tétrades) costuma ter o formato:
IIm7 – V7 – I7M
Exemplo na tonalidade de Dó maior:
Dm7 – G7 – C7M
Antes de mais nada, vale a pena destacar que o segundo grau de uma cadência II – V – I é chamado de “segundo cadencial”. Você ouvirá muito esse termo daqui para frente!
Caso você ainda esteja com dificuldade para associar os graus (I, II, III, etc.) com as suas respectivas funções harmônicas, é melhor que volte e estude de novo o tópico “harmonia funcional” com calma, escrevendo num papel, tocando no seu instrumento, até decorar bem essa parte.
Isso é muito importante e precisa ser automático na sua cabeça. Você precisa enxergar os acordes de um campo harmônico como se tivessem um sobrenome, que é a sua função harmônica. Daqui pra frente iremos falar o tempo todo das funções e de seus graus, então se você não pegou bem a essência disso tudo vai ter dificuldades. É melhor dar um passo pra trás e depois dois para frente. Assim você vai evoluir.
Caso contrário, pode achar esse estudo pesado e até querer desistir. Mas não cometa esse erro, estamos chegando nos pontos mais interessantes e poderosos da música! Vale a pena investir nisso e avançar devagar!!
Cadência II – V – I resolvendo em acorde menor
Muito bem, para quem entendeu bem o exemplo anterior, podemos também criar essa ideia de suspende/ prepara/ conclui quando a tônica for um acorde menor.
Nesse caso, a cadência costuma ter o formato:
IIm7(b5) – V7(b9) – Im7
Exemplo na tonalidade de Dó menor:
Dm7(b5) – G7(b9) – Cm7
Esses formatos não vieram do acaso, afinal esses acordes (nos dois exemplos que mostramos) pertencem aos campos harmônicos maior e menor de Dó, respectivamente. Confira (em vermelho):
O único acorde “diferente” que mostramos anteriormente e não apareceu nessa tabela é o dominante na progressão II – V – I para acorde menor, pois no campo harmônico menor ele tem o formato Vm7 (Gm7) e no nosso exemplo ele apareceu como G7(b9). A explicação é que esse formato (Vm7) não possui um trítono (que caracteriza a “tensão” da função dominante), portanto transformamos ele em um acorde maior com sétima (G7). Além disso, acrescentamos uma nona bemol (G7b9), pois essa nota b9 de Sol (Ab, nesse caso) é a sexta menor de Dó, que está presente na escala de Dó menor (na escala maior, a sexta é maior!). Isso amenizou um pouco o fato do acorde G7 ser maior e não pertencer ao campo de Dó menor, como acabamos de comentar.
Legal, mas existe ainda outro formato de cadência muito comum para acordes menores:
Cadência utilizando a nona (9ª) no primeiro grau
*Restrito. Aprenda esse conteúdo em nossa apostila completa. Esse artigo que você está lendo é uma versão parcial do artigo completo que se encontra em nossa apostila.
Utilizando cadências para mudar de tonalidade
*Restrito. Disponível na apostila.
Utilizando cadências para incrementar uma harmonia
*Restrito. Disponível na apostila.
Tipos de cadências
Agora continuaremos esse assunto diferenciando os tipos de cadências que existem. Você verá que nem todas as cadências têm essa ideia chave de suspender/ preparar/ concluir.
Como já introduzimos o conceito de cadência, continuaremos nosso aprendizado dividindo as cadências em 5 tipos diferentes: cadência perfeita, imperfeita, plagal, deceptiva e meia-cadência. Cada uma delas possui alguma característica peculiar e merece ser analisada à parte.
O mais importante aqui desse estudo não é decorar todos os nomes envolvidos nesse tema, e sim observar as sensações que são possíveis de se obter! Faremos nosso estudo em cima do campo harmônico de Dó maior.
O símbolo que vai ser utilizado para representar a ideia de conclusão harmônica (finalização) é esse:
Então vamos lá:
1) Cadência Perfeita
É aquela formada pela sequência “V – I” (Dominante – Tônica), portanto é a mais forte. Quando ela vem antecedida de um subdominante (II ou IV grau), é chamada também de cadência autêntica. Exemplos:
2) Cadência Imperfeita
É formada também pela sequência “V – I” (Dominante – Tônica), mas aqui um ou ambos os acordes aparecem invertidos, o que enfraquece a sensação da progressão. Exemplos:
Uma cadência também é chamada de imperfeita quando o dominante é o VII grau em vez do V grau. Exemplo:
3) Cadência Plagal
É quando um acorde subdominante resolve direto na tônica, sem passar pelo dominante. Pode ser uma sequência II – I ou IV – I. Exemplos:
Esse tipo de cadência também pode aparecer com um ou ambos acordes invertidos, exemplo:
4) Cadência Deceptiva
É quando ocorre uma resolução deceptiva, ou seja, o dominante vem seguido de qualquer acorde que não seja a tônica. Essa cadência possui o chamado “efeito surpresa” e não é conclusiva. Exemplos:
Uma cadência deceptiva também pode resolver em um acorde que não pertence ao campo harmônico original, o que caracterizaria uma mudança de tonalidade (modulação). Alguns autores chamam essa progressão de cadência deceptiva modulante, ou apenas “cadência modulante”. Exemplo:
5) Meia Cadência
É quando a música (ou um trecho da música) repousa sobre um acorde dominante, ou seja, o dominante não resolve em ninguém, ficando a cadência “vazia”. Exemplos:
Muito bem, avançamos bastante no estudo de cadências. Daqui para frente você irá ouvir falar muito delas, mas não se preocupe, não iremos nos prender às nomenclaturas associadas a cada cadência e sim aos efeitos provocados, explicando detalhadamente cada caso.
Afinal, música deve ser ensinada como música, não como um relatório chato de normas e definições!
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