Análise musical é o estudo da música na forma mais completa possível. Consiste em analisar uma música do ponto de vista harmônico, melódico e estrutural.
Aqui no Descomplicando a Música, iremos fazer análises de músicas periodicamente. Para que você consiga acompanhar as explicações, é recomendável que tenha concluído o estudo de todos os módulos aqui do site, ou pelo menos, grande parte deles.
Músicas Analisadas
Dando início ao nosso estudo de músicas, tente analisar a música abaixo utilizando seus conhecimentos de harmonia e melodia. Depois, confira nossa resposta abaixo e compare com a sua análise.
Wave (Tom Jobim)
A introdução dessa música passa a ilusão de que a tonalidade vai ser Dó maior, pois os primeiros acordes são Dm7 e G7(13), formando uma cadência II – V para Dó maior. Contudo, a tonalidade vai para Ré maior no início da letra, caracterizando uma resolção deceptiva um tom acima do esperado.
Depois de Ré maior, surge um diminuto de passagem descendente para Lá menor, que já entra como segundo cadencial para uma progressão II – V – I para Sol maior. Tivemos aqui uma modulação para o tom vizinho direto subdominante.
Considerando que estamos em Sol maior, o próximo acorde (Gm6) apareceu como AEM do modo homônimo, mas sua função principal foi introduzir uma cadência para retornar à tonalidade de Ré maior. Observe: logo após de Gm6, vem o acorde F#7 (dominante) que termina resolvendo em Si. Depois de Si vem o acorde E7, depois A7 para finalizar em Ré maior. Ou seja, tivemos um ciclo de dominantes estendidos resolvendo por quartas. Podemos argumentar que acorde Gm6 nesse contexto atuou disfarçado de C7, que é um SubV7 de B. Portanto, os acordes Gm6 e F#7 atuaram com o mesmo propósito: preparar a ida para B e iniciar um ciclo de dominantes estendidos.
E quanto ao acorde Bb7(9) que apareceu ali no meio antes de A7(#5)? Sua função foi produzir um efeito cromático em três notas. As notas A#, Gb e C caminharam para A, G e C#, ou seja, o baixo e a sétima desceram cromaticamente enquanto a nota C subiu cromaticamente. A nota F permaneceu estática nesse processo. O resultado sonoro dessa “brincadeira” resultou em um dos momentos mais interessantes e marcantes da música.
Essa estrutura toda que vimos se repete antes de chegar no novo trecho abaixo:
Esse trecho é típico do jazz. Temos duas cadências II – V – I. A primeira na tonalidade de Fá maior e a segunda na tonalidade de Mi bemol. Vamos observar agora a voz cantada. Repare que a segunda frase (“da segunda, o cais, a eternidade) foi cantada deslocada um tom abaixo da frase anterior “da primeira vez era a cidade”. Esse efeito ficou muito interessante, pois além de ter ocorrido uma modulação para um tom abaixo, a voz não apenas seguiu a nova tonalidade como repetiu exatamente a mesma melodia (deslocada um tom abaixo, é claro).
A harmonia desse trecho ficou muito casada com o significado letra, pois ela separou duas coisas: “da primeira vez..”, “da segunda vez..”.
A estrutura harmônica deixou bem evidente a intenção do locutor de contar dois fatos distintos.
Para finalizar essa passagem e retornar a tonalidade para Ré maior, temos o acorde A7(b9) servindo de dominante para D7M.
Vale a pena destacar que esse A7(b9) é um dominante alterado que resolve tipicamente em Ré menor. Porém, nesse caso, a melodia da música está na nota Lá na palavra “sei” (agora eu já sei da onda que se ergueu no mar..). Esse acorde A7(b9) é alterado devido sua nona bemol, que é a nota A#, e a palavra “sei” surge bem no instante em que o acorde A7(b9) desaparece para entrar D7M. Resumindo, essa nona bemol proporcionou um efeito cromático para a melodia!
Muito bem, esperamos que tenham gostado dessa análise. Até a próxima!
Conheçam também uma música que fizemos de homenagem para o dia das mães.
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